No início de setembro (sim, eu estou bem atrasado nos posts!), participei de evento organizado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana com alguns dos mais tradicionais produtores de vinhos do Alentejo, dentre eles a Adega de Borba, Cartuxa, Herdade do Mouchão, Tapada do Fidalgo, Paulo Laureano Vinus, Tiago Cabaço Wines, e Cortes de Cima, todos importados pela Adega Alentejana, além diversos rótulos produzidos pela Herdade São Miguel, J. Portugal Ramos Vinhos, Quinta do Zambujeiro e Herdade Paço do Conde, que chegam aqui através de outras importadoras.
Para mim, um dos grandes destaques foram os vinhos da Quinta do Zambujeiro, os quais ainda não conhecia. Trazidos ao Brasil pela Casa Flora, a vinícola está situada em Rio de Moinhos (Borba), a aproximadamente 170 Km de Lisboa, e possui 22 hectares de vinha, com idades entre 5 e 45 anos, em solos são predominantemente xistosos. Lá são produzidas principalmente castas portuguesas, dentre elas a trincadeira, aragonez, castelão (periquita) e touriga nacional, bem como uma pequena parcela de alicante bouschet, cabernet sauvignon e petit verdot.
Tive o prazer de provar 3 vinhos desta vinícola, todos muito elegantes e que se diferem tanto pelas uvas utilizadas em cada corte, mas principalmente pela evolução em complexidade. Com produção de no máximo 7.000 garrafas, o tinto Zambujeiro, um corte de cabernet sauvignon, touriga nacional, aragonez, trincadeira e alicante bouschet, do qual provei as safras de 2003 e 2005, estava simplesmente fantástico.
Zambujeiro Tinto 2005
Durante o mesmo evento, participei ainda de uma prova dirigida pelo renomado jornalista de crítico de vinhos português Rui Falcão, cujo tema era “Os principais cortes dos Vinhos Alentejanos”, e incluiu uma degustação de alguns dos principais rótulos elaborados nesta famosa região portuguesa. A aula do Rui é sempre um espetáculo à parte – didática, rica em detalhes e recheada de aprendizados.
O jornalista e crítico de vinhos Rui Falcão
Mas vamos aos vinhos degustados!
1) Adega de Borba DOC Branco 2012 – Produzido pela Cooperativa de Borba, considerada a mais antiga do Alentejo, este corte de antão vaz, arinto e roupeiro tem cor amarelho palha com reflexos esverdeados e traz aromas de maça verde e abacaxi. Em boca é fresco, bastante agradável, e tem boa acidez, confirmando os aromas de frutas brancas e cítricas. Deve ir muito bem com frutos do mar ou com algum prato cuja preparação leve molho branco. O vinho é importado pela Adega Alentejana e custa em torno de R$ 45,00, com boa relação preço/qualidade.
2) Régia Colheita 2011 – Na minha opinião, a grande surpresa dessa degustação. Produzido pela CARMIM – Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz, criada em 1971 e atualmente com cerca de mil associados, este branco leva antão vaz, arinto e a menos conhecida perrum, uva muito antiga que só existe no Alentejo. De cor amarelo dourado brilhante, possui aromas de abacaxi em calda e um defumado bastante agradável, talvez fruto da sua passagem por barrica usada. Um vinho de personalidade, é untuoso na boca, com médio corpo e final não muito longo. Com certeza uma boa companhia para alguns pratos de bacalhau. Este Régia custa R$ 41,00 na Casa Santa Luzia, uma excelente compra.
3) Herdade das Albernoas 2011 – Este tinto leve é o primeiro vinho da Herdade Paço do Conde, e leva aragonez, trincadeira e alicante bouschet. No nariz é bastante agradável, com aromas de frutas vermelhas em compota e especiarias. Na boca, além de uma boa expressão da fruta em compota, tem taninos presentes, mas que não agridem, e boa acidez. Vejo esse vinho no mercado (acredito que seja possível encontrá-lo no Empório Mercantil em Pinheiros) por volta dos R$ 35,00, que também é uma boa compra.
4) Reserva ACR Tinto 2009 – Outro corte de uvas tintas, desta vez da Adega Cooperativa de Redondo, feito com aragonês, trincadeira e alicante bouschet. De cor rubi muito viva, apresenta aromas intensos de frutas vermelhas em geléia e chocolate. Com estágio de 12 meses em barricas francesas e americanas, é concentrado, elegante e tem boa persistência. O preço fica em torno dos R$ 75,00 no mercado de São Paulo.
5) Herdade do Peso Colheita 2011 – Quem traz este tinto ao mercado é a gigante Sogrape, maior empresa vinícola de Portugal, que produz, em diversas regiões, desde o simples vinho Mateus Rosé até o famoso Barca Velha, passando por marcas como a Vila Régia, Grão Vasco, Offley e Sandeman. De cor rubi muito intensa e brilhante, o corte aqui é de aragonês, alicante bouschet e alfrocheiro e tem aromas de frutas vermelhas e negras, com notas balsâmicas. De corpo médio, é equilibrado, tem taninos presentes, boa acidez e persistência. Um vinho fácil de agradar, mas com um preço relativamente alto, R$ 108,00 na Zahil importadora.
6) .Com 2010 – O próximo vinho é um velho conhecido nosso, sobre o qual já falei aqui neste blog, e que continua se destacando por sua excelente relação preço-qualidade. Produzido com as castas touriga nacional, cabernet sauvignon, aragonez e trincadeira, este .Com 2010 apresenta cor vermelho-rubi escuro e aromas de frutas vermelhas e negras maduras, e também de especiarias. Em boca é equilibrado, com taninos bem integrados, e média persistência. Custa em torno de R$ 45,00 no mercado brasileiro e inacreditáveis 3,00-3,50 euros em Portugal.
7) Herdade da Capela Reserva Tinto 2008 – Nosso último vinho é produzido pela Herdade da Capela com as castas aragonez, trincadeira e alicante bouschet e tem cor rubi com um aspecto visual já mais evoluído, puxando para granada. No nariz remete a frutas vermelhas mais maduras com um toque terroso e de baunilha. Em boca é equilibrado, confirmando os aromas de frutas maduras, e tem madeira muito bem integrada.
Santé!